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Biológo desvenda mistério da sucuri de 2 cabeças do Pantanal

19 Jul 2010 - 10h40Por Época
Quando o zoólogo paraense Nelson de Albuquerque, de 35 anos, foi dar aulas na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em Corumbá, no início de 2009, ele logo se deparou com uma serpente de duas cabeças. Era uma fêmea de 54 cm de sucuri-amarela (na foto à direita). Conservada num frasco com álcool, era usada nas aulas de zoologia. Albuquerque, que é especialista em répteis, percebeu imediatamente a importância do espécime. Ele merecia ser estudado.

Albuquerque tratou de descobrir tudo sobre a cobra. Não demorou em saber que ela havia sido capturada por três moleques pantaneiros, em 1985. A cobra de duas cabeças estava nas barrancas do rio Paraguai, que corre nos fundos do campus. Criados no Pantanal, os garotos não tinham medo de cobra. Capturaram a bicha e a levaram ainda viva ao biólogo Ivã Moreno, que a sacrificou.

Moreno, hoje na Universidade Federal de São Carlos, não estudou o exemplar. Não era especialista em répteis, mas em biologia lacustre. O estudo da cobra teve que aguardar um quarto de século, até Albuquerque ingressar na UFMS e pousar seus olhos nela. O resultado da pesquisa saiu publicado na semana passada no Journal of Natural History. Além das duas cabeças, a cobra tem um par de corações, um par de fígados, dois estômagos e três pulmões.



De Hércules a Aristóteles

As serpentes exercem fascínio e medo sobre a humanidade desde o início dos tempos. No universo hindu, a Terra é sustentada por seis elefantes que se equilibram sobre uma tartaruga sideral. Esta, por sua vez, repousa sobre uma serpente que engloba o universo e simboliza a eternidade. No Velho Testamento judaico-cristão, a serpente é o conhecimento – mas também o mal.

Nenhum povo explorou tanto o mito das serpentes como os gregos. O segundo trabalho de Hércules era matar a Hidra de Lerna, uma serpente de sete cabeças. Quando o herói decepava uma cabeça, duas novas brotavam em seu lugar. O desafio de Hércules era descobrir a única entre as sete cabeças que a todas dominava - e era mortal. A outro herói grego, Perseu, coube o desafio de acabar com Medusa (retratada neste busto do Museu Capitolino, em Roma), um monstro com corpo de mulher e cabelos de serpente. Quem olhasse diretamente para ela seria transformado em pedra.

No caso da Hidra de Lerna e da Medusa, suas fontes de inspiração podem ter sido cobras de duas cabeças. Um indício está na referência mais antiga que se conhece sobre a existência de serpentes bicéfalas. Seu autor foi o filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.). No 4º Livro do seu Da Geração dos Animais, o preceptor de Alexandre, o Grande, suspeitava que esta anomalia pudesse decorrer de uma malformação do ovo.

Gênio universal, sua intuição estava essencialmente correta. O bicefalismo em répteis, anfíbios (sapos) e mamíferos (como os casos de irmãos siameses), embora raro não é incomum. A causa quase sempre está no desenvolvimento incompleto do embrião. Uma cobrinha de duas cabeças pode nascer de um embrião mal-formado ou como resultado da fusão de dois embriões, explica Albuquerque.



Mitos amazônicos e hollywoodianos

O pensamento do grande pensador grego influenciou os filósofos antigos e medievais, os naturalistas do Iluminismo e os biólogos modernos. Todos procuraram registrar a ocorrência de serpentes de duas cabeças. A sucuri-amarela de Corumbá é o 1.088º caso registrado. No Brasil, é o 28º. O primeiro foi descrito em 1947 por Paulo Vanzolini, o grande biólogo e sambista, autor de Ronda.

A sucuri-amarela (Eunectes notaeus) é a menor das quatro espécies de sucuris – que fora do Brasil são conhecidas como anacondas (assim como a nossa onça, lá fora é o jaguar). Este gênero de cobra só existe na América do Sul e não é venenosa. Uma sucuri-amarela adulta atinge 4 metros e 40 quilos. Já a sucuri-verde (E. marinus) é a maior cobra do mundo. Há exemplares em cativeiro com 5 metros e 100 kg. Mas o que não falta são relatos de monstros com o dobro do tamanho e até 300 quilos, capazes de estrangular e engolir bezerros, antas e capivaras. Acredita-se que a sucuri-verde tenha servido de inspiração para o mito da Cobra Grande, a rainha dos rios, a serpente gigante do folclore amazônico.

“A sucurizinha tinha um mês de vida ao ser sacrificada. Na natureza, esses animais sobrevivem pouco”, diz Albuquerque. “Em cativeiro, podem viver muito mais”. Albuquerque cita o caso de uma cobra do milho (Elaphe guttata) bicéfala, que viveu mais de 20 anos no zoológico de San Diego, na Califórnia (confira na foto ao lado). Seu nome? Thelma & Louise, uma brincadeira com o título do filme de Ridley Scott, de 1991



Quem manda? Thelma ou Louise?

No caso da sucuri-amarela de Corumbá, a cabeça da direita tem um pescoço ligeiramente mais comprido (5 milímetros) que o da esquerda. Como a cobra foi sacrificada, não se sabe se a cabeça da direita era a dominante do par, diz Albuquerque. Mas que existe um padrão de dominância entre as cobras bicéfalas, isso é sabido. “Uma cabeça é sempre a dominante. Ela pode ser a única a comer e beber, ou impingir seu domínio pela força. Há casos de briga entre as duas cabeças,” diz o zoólogo (confira no vídeo abaixo uma cobra de duas cabeças, onde a cabeça dominante engole um camundongo, enquanto a outra se limita a exibir e recolher a língua).


Sobre Thelma & Louise, procurei informações com a assessoria de imprensa do Zoológico de San Diego. Quero saber qual das cabeças mandava e como era o comportamento delas? Até o fechamento desta coluna, não obtive retorno. No filme, Thelma (Geena Davis) era a rebelde. Louise (Susan Sarandon), a mulher madura, que conseguia controlar a amiga e aparentava ter o controle da situação. Mas era só aparência. Nenhuma tinha os pés no chão.

Qual nome poderíamos dar à cobrinha de Corumbá?

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